Superando a perda: A jornada de uma filha após a morte da mãe

Querido leitor, o segundo domingo de maio, comemoramos o dia das mães e resolvi compartilhar, uma pequena parte da minha história, haja visto que talvez muitas mulheres ou até mesmo homens passem ou já passaram pelo que passei e então quero que saibam que apesar das dificuldades é possível seguir em frente.

Eu sou de descendente de uma família mineira, porém meus pais e irmãos que assim como eu, nasceram na região de Paranaíba MS, então éramos de uma família com 6 integrantes, origem simples, tradicional com pai, mãe, 3 irmãos e eu, éramos felizes e completos, mal podíamos imaginar, o que o mais temíamos iria nos acontecer tão repentinamente e cedo. Infelizmente minha querida mãe ficou doente e de forma súbita e veio a falecer em um período muito curto, quero que saibam que isso espedaçou minha família, deixou marcas profundas em meu pai, meus irmãos e em mim, mas no artigo quero compartilhar alguns fatos e somente alguns dos meus sentimentos, para que saibam que é possível ficarmos bem, mesmo após uma perca tão marcante.

Meu caro leitor, o primeiro fato mais difícil foi encarar foi a doença de minha mãe, nos últimos 2 dias de vida dela, eu mal conseguia ficar por perto dela, porque não aguentava tamanho sofrimento, ela tossia e reclamava de dor, os remédios pareciam não melhora-la, mas a deixava pior, tudo que eu sabia fazer, era então andar de um lado para outro e pedir a Deus que não a levasse, eu não conseguia nem comer, até que então no sábado à noite ela começou a passar mal, entrei no quarto e sai correndo, porque não tinha coragem para ver minha mãe, sofrendo daquele jeito, era demais para mim, e então ouvi um choro, ingenuamente pensei, minha mãe melhorou, quando meu irmão mais velho me chamou e disse: você jantou? eu disse não, ele disse: vai jantar então, eu disse não, eu não quero, e ele segurou nos meus ombros e disse: você precisa ser forte, perdemos nossa mamãe.

Confesso meu mundo desabou, eu tinha apenas 11 de idade, meu maior sentimento era morrer junto com ela, eu até tentei, comecei a beber loucamente os remédios dela, até que me conterem, os remédios só me fizeram dormir muito durante o velório, e parecia um pesadelo e então criei em meu subconsciente que um dia minha mãe voltaria, sabe porque eu fiz isso? Porque para mim era difícil demais aceitar que minha mãe, a pessoa que eu mais amava, havia partido, me senti sozinha, abandonada, desamparada, mesmo querendo a morte decidi sobreviver e continuei a jornada, me sentia revoltada com Deus, com a situação, e confesso até mesmo com minha mãe, porque ela foi, porque partiu tão cedo.( Esses pensamentos e essa realidade criada em subconsciente, somente com o passar do tempo é que fui entendendo cada sentimento, pensamento e tratando-os da forma correta).

Hoje posso lhe dizer que consigo ver minha história de uma forma diferente, tive vários problemas com a morte de minha mãe, entrei em um mundo que era só meu, uma realidade no meu mundo imaginário, eu vivia duas realidade uma minha, e uma a qual eu mostrava para as pessoas, onde procurava mostrar que estava tudo bem, mas por nem sempre conseguir, ganhei um apelido usado por alguns membros da família, “ estranha”, e quanto mais eu ouvia as fofocas sobre esse belo apelido, mais me fechava, eu não tinha maturidade para lidar com a aquela situação, somente depois de muito tempo entendi o quanto foi difícil para o meu pai e meus irmãos, imagine 4 homens, cada um tendo que lidar com sua dor e ainda tendo lidar com uma criança, quase adolescente, talvez um dia possa lhes contar sobre algumas coisas que nos aconteceram, porém nesse artigo quero compartilhar alguns fatos para que vocês entendam que um luto é possível ser superado… Quero ressaltar aqui que sou grata ao meu pai e irmãos porque sei que fizeram em muitos momentos não o que eu esperava, mas sei que fizeram o melhor que conseguiram.

Então no meu mundo imaginário, criei a fantasia de que um dia minha mãe voltaria, eu até sonhava com esse fato as vezes, e em cada especial, natal, ano novo, meu aniversário, festas de famílias, festas de escolas, casamento e entre outros eu ficava ali parada, imaginando como seria se minha mãe estivesse, imaginava cada gesto e cada detalhe, os pensamentos eram intensos, com cores, gestos, fatos. Então minha vida seguia, morei um período com meu pai, outro período de favor, em outros conquistei minha independência e até que me casei, me tornei esposa, mãe, construí uma família.

Sabe o que era mais estranho o tempo passava, eu já tinha aprendido a viver sem minha mãe, mas nunca deixava o meu mundo imaginário de lado, então quando tive meu filho esse sentimento ficou mais aflorado, poxa como queria minha mãe ali, me ensinando me ajudando me apoiando, e tentei uma pessoa e outra, mas todos ocupados e não podiam me ajudar, e Deus então levantou pessoas que eu nem estava esperando e me ajudaram, desde já a todos que me ajudaram neste momento em outros também, o meu “obrigada”, em especial já quero deixar minha gratidão, ao meu irmão que estava comigo, no momento do parto até o cair do umbigo do meu filho, sei que para ele foi difícil, trabalhava, cuidava de mim, do meu filho e da filha dele, dos fazeres de sua casa e ainda trabalhava a noite, também expresso gratidão a minha cunhada que o apoiou quando ele decidiu me ajudar, e uma senhor, amiga de muitos anos que deixou sua casa e veio ficar 5 dias comigo depois que o umbigo do meu filho caiu.

Quero que vocês, saibam que havia dias que eu achava que não ia conseguir, meu filho tinha cólica, dia e noite, nos primeiros 3 meses, eu mal dormia 3 horas por noite, e confesso não era fácil, eu estava de licença do trabalho, mas tinha que cuidar das tarefas de casa sozinha, muitas vezes com dor, e aquelas tarefas pareciam nunca acabar, e ainda meu filho ficou doente ficou internado, e então eu ficava pensando nossa se minha mãe estivesse aqui seria, assim, assim e etc.. Havia dias que sonhava e almeja o colo da minha mãe … Sabe, em muitos momentos me senti sozinha, mas posso dizer que agora reconheço e vejo que em cada momento que eu me sentia assim, Deus sempre levantou alguém para me ajudar, como mencione antes, as vezes pessoas que eu nem esperava.. E admito cada auxilio e apoio foram fundamentais a minha vida. Em muitos momentos me sentia impotente, achava que não ia conseguir, era um turbilhão de pensamentos, o tempo foi passando e então a ficha do meu esposo caiu e ele começou a me ajudar com os cuidados do bebê e a vida foi acontecendo, quero abrir umas aspas aqui “de mãe para mãe, sabemos quantos espinhos tem na maternidade, mas sabemos que vale a pena cada um deles, porque o amor de mãe é gigante.”

A vida seguiu, e cada desafio que surgiu eu ia conseguindo superar, então sei que muitos não gostam, criticam, mas é fundamenta para nossa vida, até que um dia fui em uma terapeuta e consegui entender que esse mundo imaginário e fizemos uma ressignificação, método usado que meu subconsciente entendesse a morte da minha mãe, houve ali uma libertação na minha vida, desde aquele dia, nunca mais sonhei que minha mãe estava voltando, entendi que ela partiu, que fez o melhor que ela pode, foi a melhor mãe que conseguiu ser, eu pedi perdão e fui perdoada, afinal ela não escolheu partir, ela foi porque sua jornada tinha chegado ao fim. A morte não é bem vista em nossa cultura, não somos preparados para este tipo de perca, embora todos estejam sujeitos, isso torna tudo mais difícil, mas entenda todas as pessoas tem um proposito na terra, isso é um pensamento meu, veja, tem pessoas que as vezes a achamos que irá morrer e vivem, outras achamos que vão viver muito e morrem cedo. Eu sou cristã, acredito que cada um é responsável por sua história, mas que em algum momento por fatos que não entendo quando chegar no fim, essa história, essas pessoas vão partir e aos que ficam cabem entender essa partida e aprender a lidar com o luto.

Sabe em meio a tudo isso, se você me perguntasse, você queria que sua mãe estivesse aqui, logico que eu responderia que sim, mas posso lhe dizer com toda clareza, eu aceitei a morte da minha mãe, ela foi porque que tinha chegado a hora dela, foi fácil viver sem ela ? não nenhum um pouco, mas perder a minha mãe me fez ser menos egoísta, me fez desde muito cedo lutar pelos meus ideias, me fez humilde, me fez esforçada, dedicada, me fez querer a ser melhor a vencer meus pontos fracos. Cabe a cada um de nós encarar os desafios propostos pela vida e procurar supera-los da melhor forma possível. Todos somos capazes, em muitos momentos quis desistir, largar tudo, fugir, morrer, confesso que sim, mas o amor por Deus, pela minha família 1 e depois família 2, sempre encontrei forças para continuar e que você também possa se apegar também nos fatos bons da vida. E se você perdeu um ente querido, não tenha medo de pedir ajuda, fale com um profissional, mas lembre-se que a sinceridade é muito importante para que haja êxito no processo, ou se conhece alguém que tem dificuldade com o luto oriente essa pessoa a procurar apoio. Todos nascemos e merecemos sermos inteiros.

 Eu tive muitos problemas devido esse fato que lhe contei no artigo e também com a morte de meu pai, (mas é um assunto um dia talvez outro artigo) cada morte criou um tipo de conflito e situação, mas para mim era muito difícil falar sobre, então criei a imagem do está tudo bem, mas apenas por fora, por dentro, não estava, não faça como eu fiz, hoje estou compartilhando essa história para que você saiba, pedir ajuda não é sinal de fraqueza mas de força. E Não importa o tamanho da dificuldade, tudo é possível aos olhos daquele que crê, apesar de todo esse conflito interior, eu nunca deixei de sonhar, de acreditar e buscar meus objetivos, e nunca deixei de buscar a Deus, até nos momentos de revoltas eu o buscava, ainda tenho metas a serem alcançadas, mas posso lhe dizer que apesar de todas as dificuldades, me sinto uma vitoriosa por cada conquista de minha vida. Você também pode, acredite em você e busque a viver intensamente a cada dia.

Quero dedicar o artigo em especial a minha mãe que foi uma mulher guerreira, dedicada, e muito trabalhadeira, tinha pouco estudo sim, mas era inteligente e sábia, seus conselhos, contados ainda em minha infância, foram usados em minha adolescência.

Rose Queiroz é formada em administração e filosofia, com especializações em docência do ensino superior, gestão de pessoas, psicologia organizacional e empresária
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Jornalista, fotógrafo, editor chefe do portal InterativoMS e apaixonado por inovação e política.

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