Frigoríficos de MS reagem à tarifa de Trump; e pausa envio de carne aos EUA

MS pausa envio de carne aos EUA

Em um cenário de reconfiguração do comércio internacional, a reação dos frigoríficos de MS à imposição de uma tarifa de 50% sobre a carne bovina brasileira destinada aos Estados Unidos, anunciada pelo presidente Donald Trump, marca um ponto de inflexão para o setor. A decisão de suspender temporariamente a produção voltada para o mercado norte-americano, nesta terça-feira, 15 de julho de 2025, reflete uma estratégia proativa para mitigar riscos e evitar o acúmulo de estoques diante de um cenário tarifário que tornaria as exportações inviáveis a partir de agosto. Esta medida, embora focada no mercado estadunidense, não paralisa as operações gerais, com as empresas buscando ativamente a diversificação de seus destinos de exportação e o fortalecimento do mercado interno.

A iniciativa de pausa na produção para os EUA, conforme explicado por Alberto Sérgio Capucci, vice-presidente do Sincadems (Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de Mato Grosso do Sul), visa proteger as empresas de perdas financeiras. A expectativa é que a tarifa torne a importação de carne brasileira pelos EUA proibitivamente cara para os importadores, que seriam os responsáveis pelo pagamento do imposto. Essa antecipação e adaptação demonstram a agilidade do setor em Mato Grosso do Sul em face de desafios comerciais inesperados. A produção para outros mercados, como China e Chile, e o redirecionamento para o consumo interno, são alternativas que já estão sendo exploradas, garantindo a continuidade das atividades nos frigoríficos.

Apesar do impacto da tarifa, a reação dos frigoríficos de MS é um reflexo da resiliência do agronegócio brasileiro. Dados da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes) indicam que aproximadamente 70% da carne produzida no Brasil é destinada ao mercado nacional. Os 30% restantes, exportados, consistem majoritariamente em cortes específicos, como o dianteiro do boi, utilizado na produção de hambúrgueres nos EUA, e miúdos, consumidos na Ásia. Essa segmentação do mercado de exportação permite uma maior flexibilidade na realocação de produtos. A Abiec já havia sinalizado a avaliação de novos embarques e a redução do fluxo de produção para o mercado norte-americano, buscando novos parceiros comerciais globalmente.

Os Estados Unidos representam o segundo maior comprador de carne bovina do Brasil, ficando atrás apenas da China, e são responsáveis por cerca de 14% da receita total brasileira do produto. A relevância desse mercado é sublinhada pelo aumento expressivo nas vendas no primeiro semestre de 2025, com a receita e o volume exportado mais que dobrando em comparação ao mesmo período de 2024. O volume total exportado para os EUA até junho atingiu 181.477 toneladas, um crescimento de 112% em relação ao ano anterior, correspondendo a aproximadamente um terço do total exportado pelo Brasil em 2024 para o mundo. A receita total dessas exportações alcançou US$ 1,04 bilhão, um aumento de 102% em relação ao primeiro semestre de 2024, conforme dados da Abiec.

A tarifa adicional de US$ 2.866 por tonelada, somada ao preço médio praticado de US 2.866 por tonelada, somada ao preço médio praticado de US$ 5.732 por tonelada, elevaria o custo total para cerca de US$ 8.600 por tonelada. Este valor é considerado inviável frente à concorrência global, segundo representantes do setor. A Abiec reitera que qualquer aumento tarifário sobre produtos brasileiros constitui um entrave ao comércio internacional e afeta negativamente a cadeia produtiva da carne bovina. A busca por novos mercados e a adaptação das operações são cruciais para mitigar os efeitos dessa medida protecionista e manter a competitividade do setor no cenário global.

Em suma, a decisão dos frigoríficos de Mato Grosso do Sul de pausar a produção de carne destinada aos EUA, em resposta à tarifa imposta por Donald Trump, ilustra a dinâmica complexa do comércio global de commodities. Longe de representar uma paralisação, essa medida estratégica reflete a capacidade de adaptação e a busca por novas oportunidades em mercados alternativos, bem como a valorização do consumo interno. O setor da carne bovina brasileira demonstra, assim, sua resiliência e sua habilidade em reconfigurar suas operações para enfrentar desafios e garantir a sustentabilidade de suas exportações em um ambiente geopolítico e econômico em constante mudança.

Siga nosso Instagram!

Jornalista, fotógrafo, editor chefe do portal InterativoMS e apaixonado por inovação e política.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.