Ex- travesti conta como era ganhar a vida com sexo em Paranaíba

Uma travesti, ex-garota de programa, concedeu entrevista exclusiva aos portaisl DestakAgora e InterativoMS e contou como era a vida noturna em Paranaíba. Ele, que hoje prefere ser tratado pelo gênero masculino, embora se afirme gay, começou a fazer programa aos 15 anos. Para preservar a imagem do entrevistado, vamos chamá-lo de SOL.

Segundo SOL, hoje com 30 anos, sempre teve apoio da família quando escolheu revelar a opção sexual, desde criança se sentia diferente, percebia que dentro de si nascia algo que não era comum com os outros colegas da escola. “Todos meus amiguinhos iam jogar bola, brincar de carrinho, mas eu sempre quis brincar de boneca, não me sentia à vontade com as coisas que os meninos faziam”, conta.

DestakAgora-  Quando você decidiu se assumir gay?

SOL – Não teve um momento concreto, eu sentia algo diferente dentro de mim e isso foi crescendo cada vez mais, porém eu tinha medo de me aceitar, de ser o “viadinho” da família porque na época isso era tudo novo pra mim.

Destak- Quando você começou a fazer programa?

SOL- [Em lágrimas ele contou]: Uma amiga travesti minha foi morar em casa e ela já fazia programa, até então eu nunca tinha me vestido de mulher, me sentido livre de verdade, mas naquele momento, com ela dentro de casa, vendo a alegria dela se vestindo de mulher eu comecei a ficar afeminado, a sentir vontade de imitar ela, e tive coragem de começar a fazer programa.

Destak- Como foi o primeiro programa?

SOL- Os homens gostavam de “viadinho” novo, e como eu era novidade na curva [local típico de travestis em Paranaíba] eu tive facilidade de fazer meu primeiro programa. Foi com um empresário da cidade, ele me levou pro motel, quando chegamos lá eu senti muito medo, porque aquilo era tudo novo pra mim, e ele mandava eu fazer as coisas, do tipo, chupa, faz isso ou aquilo. Quando terminou ele me deixou na Cohab e eu tive que terminar de chegar a pé. Ganhei R$200, mas não valeu a pena porque eu senti muito nojo daquilo que fiz.

Destak- Qual foi a situação mais constrangedora que você passou?

SOL- Um senhor me contratou para fazer um programa com ele e a esposa, mas quando eu cheguei ao motel não tive tesão, não consegui penetrar a mulher, foi muito vexatória a cena. Eu não recebi pelo programa e eles me levaram embora.

Destak- Já fez sexo em grupo?

SOL- Sim. Inclusive eu quase apanhei, eles estavam em três homens e um dos rapazes ficou com ciúmes de mim e queria me bater.

Mas foi o seguinte, eles me contratam e me levaram para o motel, eu cobrei R$200, lá no motel eles usaram droga, beberam a noite toda e fizemos muito sexo, eu não penetrei nenhum deles, apenas fui penetrado, mas eles transaram entre si.

Destak- Você se lembra de ter feito programa com mulheres?

SOL- Já fiz sim, uma senhora contratou eu e uma amiga minha travesti e ela queria ver nós dois transando, ela nos disse que o sonho dela era ficar com dois gays, eu não transei com ela, aliás, eu nunca transei com mulher, nem sei como faz, já fiz sexo oral, mas penetração nunca.

Destak- Alguma vez você já foi agredido?

SOL- Me emociono de falar disso, mas infelizmente sim. Uma das vezes um homem parou de moto perto da antiga Nestlé e me chamou pra conversar, eu disse que o programa era R$80 e ele achou caro, quando eu virei ele me puxou pelo cabelo e começou a me bater, eu consegui empurra ele e correr. Outra vez, que foi pior, eu estava na curva e quando fui embora um moço me agarrou e tentou me arrastar para o mato, ele me jogou no chão e disse que queria me “comer”, eu tirei a bota e acertei ele e comecei a gritar, foi quando o guarda de uma empresa ali perto da rodoviária ouviu e me ajudou.

Destak- Qual era a pior coisa de fazer programa?

SOL- O preconceito dos próprios homens que me “comiam”, porque no motel eles faziam de tudo, mas quando eu passava na rua e eles estavam no bar com os amigos agiam com preconceito, me xingavam, eu tinha muita vontade de falar a verdade, mas não podia porque eu precisava do dinheiro deles.

Destak- Qual mensagem você gostaria de deixar para as pessoas que hoje vivem de programa?

SOL- Que eu entendo a dor delas. Na verdade vou ser bem franco, não posso dizer nada, mas um dia elas vão se arrepender, não tem como voltar atrás e consertar o que fizeram, mas eu peço que elas mudem, principalmente esses jovens, que eles tomem cuidado, porque a vida de programa é perigosa, no começo pode parecer boa, porque todo dia vão a lugares diferentes, comem bem, transam com pessoas diferentes, mas além do risco de vida, tem doenças, e as marcas que a vida deixa na gente.

Por: Pablo Nogueira/ Lucas dos Anjos

Jornalista, fotógrafo, editor chefe do portal InterativoMS e apaixonado por inovação e política.

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