Após 39 dias congelado, o preço do óleo diesel foi reajustado em 14,2% no sábado (18). Essa alta já refletiu em até R$ 0,66 de aumento no litro do óleo nas bombas, conforme apuração do Correio do Estado.
Na semana passada, de acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o preço mínimo do diesel em MS estava em R$ 6,44, já nos dias 22 e 23 a equipe de reportagem encontrou o preço mínimo de R$ 7,10 – diferença de R$ 0,66 ou 10,24% de aumento.
Já em relação ao preço máximo praticado no Estado, a diferença ficou em R$ 0,49. O litro era comercializado pelo valor máximo de R$ 7,40 entre os dias 12 e 18 de junho, e ontem chegava a R$ 7,89 em Camapuã. A estatal também reajustou o preço da gasolina em 5,2% nas refinarias.
Com este cenário de alta, passou a ser comum andar pelos postos do Estado e ver formas de pagamento diversificadas, como o parcelamento em até três vezes na hora de abastecer.
“Nos postos está em média custando R$ 7,25 o litro. Ainda não vi o litro do óleo por menos de R$ 7,10 no Estado”, diz Andrei de Souza Lima, caminhoneiro e autônomo que faz parte de uma cooperativa de transporte.
O profissional autônomo diz que a cooperativa consegue comprar diesel em grande quantidade e por isso ele abastece o tanque a um valor mais em conta. “Pagamos preço quase de custo. Compramos diesel direto da distribuidora, e a margem para encher meu tanque eu gasto cerca de R$ 6,88 o litro”, revela.
Apesar do desconto, ele diz que os últimos meses têm sido complicados para a categoria. “Como proprietário do caminhão, quando aumenta o combustível e o valor do frete não acompanha, tira dinheiro do nosso bolso”.
Lima comenta que a categoria reclama bastante dos preços. “Nunca imaginamos que o diesel ficaria no preço da gasolina. Tudo é transportado pelo caminhão, é indispensável. O preço do óleo afeta todo mundo e, se ele sobe, tudo sobe no mercado”, argumenta.
Professor da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS) e doutor em economia, Mateus Abrita aponta que o aumento dos combustíveis afeta toda a população.
“Estamos sentindo a alta dos combustíveis chegando ao consumidor de forma direta no caso da gasolina e do diesel e de forma indireta, porque impacta o custo de produção, frete e transportes. Infelizmente, isso acaba por prejudicar ainda mais o poder de compra da população que já está sofrendo”, resume.
GREVE
Conforme noticiado pelo jornal O Estado de São Paulo, o presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, o “Chorão”, chegou a ameaçar uma greve.
“A verdade é que, de uma forma ou de outra, mantendo-se essa política cruel de preços da Petrobras, o País vai parar novamente. Se não for por greve, será pelo fato de se pagar para trabalhar. A greve é o mais provável”, afirmou, em comunicado.
Apesar de a revolta em nível nacional estar tomando esses contornos, a situação parece mais fria em MS.
O diretor-presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística de Mato Grosso do Sul (Setlog-MS), Claudio Cavol, ressalta que não há programação de greve em MS.
“O sindicato não pensa nisso. Este não é o momento de pensarmos qualquer coisa nesse sentido, porque só pioraria esse quadro. A gente entende que é hora de darmos as mãos e tentarmos atravessar este momento juntos”.
Osni Belinati, presidente do Sindicato dos Caminhoneiros do Estado de Mato Grosso do Sul (Sindicam-MS), diz que a situação é muito ruim.
“Estamos em um momento difícil com o preço do óleo. É chover no molhado. Estamos revoltados, mas vou reclamar para quem?”, indaga o líder sindical.
Belinati reitera que é preciso olhar para o futuro. “Temos de ter responsabilidade. Quantas pessoas estão passando fome? Se pararmos, esse quadro fica ainda pior, vai faltar produtos nos mercados. Se fizermos greve, vamos prejudicar mais ainda. Temos de ter muito equilíbrio, o País passa por uma dificuldade muito grande”.
Outro que relata o cenário preocupante é o presidente do Sindicato de Trabalhadores do Transporte de Cargas de Mato Grosso do Sul (Sindicargas-MS), Gilmar Ribeiro.
“Com a alta do combustível, o transportador é prejudicado, e atrelado ao valor do frete estão despesa de folha, manutenção, diesel, altas de produtos e insumos. O transportador que tiver condição, ele vai parar o caminhão, e se estiver perdendo dinheiro a empresa vai demitir”.
No entanto, ele cobra medidas do governo federal. “Quem tem de fazer uma política melhor é o governo, que ele venha a melhorar o preço do diesel para sanar o prejuízo”, finaliza.
DESISTÊNCIA
Andrei Souza resume a situação com incredulidade. “Não sei nem como não teve greve ainda, em outros tempos fizeram greve por motivos menores, e agora todo mundo reclama, mas tem conta para pagar então ninguém para”.
No entanto, o caminhoneiro pondera alguns fatores que dificultam uma parada no serviço. “Tem parcela de caminhão para pagar, conta, manutenção, chega uma hora que fica inviável. Com essa alta, o cara mais endividado tem deixado de rodar”.
Esse é o caso de Adriano Basso. O empresário era proprietário de uma pequena transportadora e, há cerca de 30 dias, não faz mais frete nenhum.
“Coloquei à venda os caminhões. Não tem condições de trabalhar com este preço do combustível que está aí. O frete está horrível e o valor não acompanha. As grandes transportadoras têm frete barato pelo volume de caminhão, eles têm linha de crédito com juros muito baixos, nós que somos menores não conseguimos acompanhar”, lamenta.
Governo articula bolsa caminhoneiro
O noticiário nacional aponta que há uma articulação sendo traçada entre governo federal e Congresso Nacional para implantação do bolsa caminhoneiro.
Inicialmente, de acordo com o Estadão, o ministro da Economia Paulo Guedes havia proposto um benefício de R$ 400 – mesmo valor do Auxílio Brasil. No entanto, o valor foi criticado pelo setor, já que o recurso daria para no máximo 50 litros do combustível fóssil. Após críticas, o valor do benefício passou a ser cotado em R$ 1 mil mensais.
Ontem, o líder do governo no Senado, Carlos Portinho (PL-RJ), confirmou que há uma discussão sobre conceder um voucher de R$ 1 mil mensais a caminhoneiros e aumentar o vale-gás a famílias de baixa renda.
A ideia é retirar os recursos da PEC à compensação a estados que reduzissem o ICMS sobre diesel e gás de cozinha e, assim, usá-los, em torno de R$ 30 bilhões, para bancar o pacote.
“A gente quer que chegue na ponta o benefício. Não adianta dar R$ 30 bilhões e os estados, insensíveis à população, não zerarem [o ICMS]. Se a gente tivesse o compromisso dos estados em zerar, talvez esses auxílios emergenciais fossem desnecessários”, afirmou Portinho ao Estadão.
Já o líder da frente parlamentar da categoria no Congresso, Nereu Crispim (PSD-RS), disse que “nem R$ 5 mil resolvem”. E sugeriu mudança na política de preços de paridade de importação (PPI) da Petrobras.
Fonte: Correio do Estado