Adriano Pires desiste de ocupar a presidência da Petrobras

O economista e consultor Adriano Pires comunicou nesta manhã ao Palácio do Planalto que desistiu de ocupar a presidência da Petrobras. Adriano havia sido indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para o cargo na semana passada,  para substituir o general Joaquim da Silva e Luna.

Os motivos que fizeram Pires renunciar ao posto são os mesmos que levaram Rodolfo Landim a comunicar, no domingo (4), que renunciava à indicação para a presidência do conselho da companhia: os conflitos de interesse que ele enfrentaria na Petrobras.

Entre os clientes de Pires está o empresário e sócio de distribuidoras de gás Carlos Suarez, que é também amigo de décadas de Landim. Outros clientes do consultor são a associação do setor (Abegás), a Compass, concessionária de gás do empresário Rubens Ometto, e diversas outras empresas do setor.

No ano passado, ele trabalhou no Congresso pela aprovação da lei do gás, com artigos que eram do interesse das distribuidoras.

Nos últimos dias, o economista vem sendo pressionado a revelar quem são seus clientes, mas não o fez. Embora argumente que não pode dar declarações à imprensa por estar em período de silêncio, todo o mercado sabe (e ele mesmo não esconde) para quem ele trabalhou nos últimos anos.

Na quarta-feira passada, os relatórios da Diretoria de Governança e Conformidade da Petrobras sobre o histórico de Pires e de Landim foram apresentados ao ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, e a técnicos da Corregedoria-Geral da União. 

Eles ficaram assustados com o que leram.

Segundo apontaram os documentos, os dois teriam dificuldades em passar pelos  critérios do comitê interno que vai avaliar se eles têm ou não condições de ocupar os postos para os quais foram indicados.

O comitê se reúne amanhã para analisar o relatório e preparar um parecer a ser enviado aos acionistas que vão deliberar no dia 13 sobre as indicações.

Nesse parecer, o comitê precisa resumir as conclusões das investigações, conhecidas internamente como  “Background Check de Integridade”, ou BCI.

Segundo pessoas que tomaram conhecimento do relatório de integridade sobre Pires, a conclusão principal é que, no comando da empresa, ele enfrentaria “conflitos demais”.

Como cliente, Suarez tem uma série de interesses na Petrobras. O mais imediato tem a ver com a negociação de um acordo bilionário entre a distribuidora no Amazonas de que ele é sócio, a Cigas, e a petroleira.

Os setores jurídicos das duas companhias estão negociando há meses um acordo para encerrar todos os litígios entre as duas empresas.

Não há estimativa formal dos valores envolvidos, mas fontes familiarizadas com as questões em discussão estimam que não serão menores do que R$ 1 bilhão e podem chegar a até R$ 8 bilhões.

Depois que Pires foi indicado, acionistas minoritários passaram a se articular para indicar mais conselheiros e o Ministério Público no  Tribunal de Contas da União entrou com uma representação propondo que Pires não assumisse o comando da companhia antes de uma investigação sobre os conflitos. 

Desde ontem, Pires vem dizendo a pessoas próximas que cogita desistir do cargo.  Ele diz que só descobriu depois de aceitar a indicação que a política de integridade da Petrobras não permite que seus executivos tenham parentes comercialmente ligados a concorrentes e parceiros comerciais. E para assumir a presidência da petroleira, Pires estava passando as ações da consultoria para o filho, Pedro.

Com a pressão se intensificando, Landim e Pires certamente consideraram que tem mais a perder do que a ganhar insistindo em ocupar seus postos na Petrobras.

Fonte: O Globo

Jornalista, fotógrafo, editor chefe do portal InterativoMS e apaixonado por inovação e política.

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